Em 1 de fevereiro de 1912 Maceió viveu um fato marcado pelo preconceito e pela intolerância religiosa. Conhecido como Quebra de Xangô, o episódio se constituiu na perseguição e destruição dos terreiros onde eram realizados os rituais religiosos de matriz africana. O quebra-quebra foi praticado pelos integrantes da Liga dos Republicanos Combatentes, grupo destinado à agitação popular contra o Governo do Estado na época.
Para praticar tal ato que silenciou os terreiros na capital alagoana foi utilizado o pretexto de que o governador do Estado e outros integrantes do Partido Republicano Conservador protegiam e frequentavam as sessões de Xangô. Depois de toda a destruição, houve a ascensão do Partido Democrata, que contava com a influência da Liga dos Combatentes. Juntos, eles continuaram a perseguir e a impedir a reorganização das casas de culto afro em Maceió.
Além da destruição dos locais e dos objetos que faziam parte dos cultos afros, a Operação Xangô - como ficou conhecida - também foi responsável por muitos atos de violência e morte. Um dos casos mais famosos é o da ialorixá e dona de um terreiro conhecida como Tia Marcelina, que recebeu um golpe de sabre na cabeça no dia do quebra-quebra, ficando caída no chão e banhada em sangue. Outro caso emblemático é o de um descendente de africanos chamado Manoel Martins, que teve o cavanhaque arrancado com epiderme e tudo.
Como a violência e a perseguição continuaram com o novo Governo, os cultos afros só voltaram a acontecer em Maceió anos depois do episódio. Mesmo assim, de forma silenciosa, numa modalidade chamada de "Xangô Rezado Baixo" - sem os toques dos tambores. Hoje, alguns objetos resgatados das Casas de Xangô compõem a Coleção Perseverança, que faz parte do acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Vale a pena dar uma conferida...
E olhe que estamos falando de um País miscigenado, onde todos temos um pouco de negro, de branco, de mulato, de índio... e onde atitudes preconceituosas, mesmo que nos dias de hoje não acarretem em destruição e violência, deveriam ter deixado de existir há muito tempo.
Fonte
Jamilly Bezerra